LUGAR DE KARAOKÊ
Fumie Ishizuka é meu nome, mas, quando cheguei ao Brasil, mais precisamente em São Paulo, depois de ter que repetir várias vezes meu nome para todos aqueles com quem eu conversava, resolvi adotar um outro: Ana. Esse procedimento era comum entre os nipodescendentes.
Além de ser um nome bonito, era o único que minha língua pesada de japonesa conseguia pronunciar aqui nesse lugar onde passei a viver.
Como um peixe fora d’água, levei meses me adaptando e arrumei moradia com alguns parentes da minha cidade natal. Depois, fiz amizades não só com meus conterrâneos, como também com alguns poucos brasileiros.
Até emprego eu arrumei e foi como professora de Japonês para descendentes.
Um dia, caminhando por uma rua aqui do bairro da Vila Mariana, cruzei com uma placa, cujo escrito me era familiar. Ela dizia: KARAOKÊ – divertimento em que alguém do público canta ao microfone.
Resolvi entrar e depois de um tempo comecei a freqüentar o lugar. Participei de alguns concursos de karaokê e venci todos eles.
Certo dia, fui avisada de que teria um concurso de karaokê em São Paulo e soube que muitas pessoas haviam se inscrito.
Decidi me inscrever também e o páreo foi duro, pois estava concorrendo com pessoas muito mais experientes do que eu.
Por incrível que pareça, consegui passar em todas as etapas, até que cheguei à final.
Nessa última etapa, eu competiria com outras mulheres, as quais, quando cantavam, mais pareciam ter a pronúncia da voz de Deus. Naquele momento, é claro que fiquei aterrorizada.
Para dar um estímulo maior a nós, candidatas, logo após a nossa apresentação aos jurados, exibiram-nos o troféu. Para mim, aquele troféu dourado era muito mais que um pedaço de plástico e metal: era a coroação da minha nova vida, de modo que resolvi que ele seria meu.
Quando os jurados nos deram as notas, foi de apenas 0,1% a diferença entre mim e a segunda colocada.
Por isso, não importa aonde eu vá, sempre o carregarei comigo, pois ele é o símbolo de uma vitória impossível, o momento mais memorável da minha vida, que foi quando finquei raízes aqui em São Paulo, a maior colônia japonesa do mundo, e a vitória no karaokê veio para coroar tudo isso.
(Baseado no depoimento de Fumie Ishizuka, de 73 anos)